ENFEITIÇADOS, O FILME – reflexões jurídicas nos conflitos familiares –

  • Categoria do post:AASP

Autor: Igor Florence Cintra

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Data de produção: 20/1/2025

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O novo filme da Netflix, ENFEITIÇADOS, apresenta uma narrativa encantadora e ao mesmo tempo profundamente reflexiva sobre os impactos do divórcio na dinâmica familiar. A trama aborda um casal real que, devido às brigas constantes, se transforma literalmente em “monstros”. E a filha, uma princesa adolescente, no papel de mediadora involuntária, tenta resgatar a harmonia familiar em meio a conflitos que, infelizmente, se assemelham à realidade de muitas famílias em processo de separação.

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Uma frase marcante da Princesa Ellian no filme – “se vocês perderam o amor um pelo outro, podem perder o amor por mim” – sintetiza um sentimento comum em crianças que vivenciam o divórcio dos pais. Essa insegurança emocional pode ser devastadora, pois elas frequentemente internalizam a ideia de que são culpadas ou até mesmo que o afeto dos pais por elas também está em risco, um enorme fardo para uma criança ou adolescente carregar, e que certamente deixará cicatrizes eternas.

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ENFEITIÇADOS: a vida real

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Nos processos de divórcio tanto consensuais como litigiosos, o conflito parental é uma das principais causas de sofrimento para os filhos. Quando as discussões se tornam frequentes e intensas, os pais, muitas vezes sem perceber, colocam os filhos no papel de intermediadores ou espectadores das disputas. Isso gera consequências psicológicas, como culpa, medo, vergonha, solidão e revolta, como aquelas experenciadas pela Princesa Ellian, no filme.

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Do ponto de vista jurídico, o direito de família busca (ou pelo menos deveria) preservar o melhor interesse da criança, conforme amplamente previsto em nossa legislação, cujo propósito é colocar as crianças e o adolescente como sujeitos de direitos, e não como terceiros interessados ou mero expectadores. É papel do Poder Judiciário, dos advogados, e dos familiares – especialmente dos pais, priorizar os interesses das crianças e adolescentes, protegendo-os integralmente, deixando viver a sua infância e adolescência, ao invés de cuidar de seus genitores e tentar apaziguar o conflito entre eles.

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É plenamente possível e aconselhável, que o divórcio seja respeitoso, buscando preservar as relações familiares, e que os profissionais envolvidos encarem a resolução do conflito, seja ele consensual ou litigioso, de uma forma mais humana, preservando a família, priorizando o bem-estar da criança e do adolescente.

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ENFEITIÇADOS: transformação de “monstros” em humanos

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Assim como no filme, quando os pais encontram formas de harmonizar suas relações, mesmo após o divórcio, deixam de ser “monstros” para os filhos. Reconhecem que, embora o casamento tenha terminado, o vínculo parental permanece. Essa transformação depende de empatia, autoconhecimento e, muitas vezes, de mediação e orientação especializada, que deve ser buscada desde o início pelos envolvidos, evitando conflitos muitas vezes desnecessários.

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ENFEITIÇADOS: o recomeçar

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No desfecho de ENFEITIÇADOS, a transformação dos pais em “monstros” termina quando eles escolhem superar suas diferenças e se reconectam pelo amor à filha, a Princesa Ellian, que por sua vez entende que a melhor opção é a separação do casal, fazendo com que o Reino de Lumbria tenha um Rei e uma Rainha, divorciados. Essa mensagem transcende a ficção e ecoa na realidade de tantas famílias que enfrentam o divórcio.

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Na vida real, essa transformação também é possível, mas exige mais do que boas intenções: é preciso sabedoria e suporte jurídico especializado e humanizado. Um processo bem conduzido, com profissionais experientes e confiantes, pode garantir que decisões como guarda, convivência e divisão de responsabilidades sejam tomadas com equilíbrio e respeito, preservando o melhor interesse de todos, especialmente dos filhos.

 

O divórcio não precisa ser o fim de uma família, mas sim o início de uma nova história, pois a família está no coração. Assista o filme, ENFEITIÇADOS, e reflita: como você pode transformar um momento de ruptura em um ato de amor e proteção aos seus filhos? Na vida, assim como no filme, o verdadeiro encantamento está na escolha por justiça, respeito e harmonia.

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Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da AASP .

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Igor Florence Cintra

Minibio: advogado especialista em direito de família e sucessões, graduado (2005) pela UniFMU, Pós-Graduado em Direito Civil e Processo Civil (2007) e em Direito de Família e Sucessões (2010) pela EPD, e, cursando Pós-graduação em Holding e Proteção de Patrimônio Família-Empresa pela IDD.

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