No terceiro dia de evento, advogadas falam sobre os caminhos já trilhados pelas mulheres no Direito e as mudanças que ainda são necessárias.
O painel “As precursoras no Direito: reconhecendo o passado, valorizando o presente” recebeu Ezilda Melo, Advogada e Mestre em Direito Público; Rafaela Aiex Parra, Advogada e Professora de Direito do Agronegócio; e Nathalia Blagevitch, Advogada especialista em Diversidade e Inclusão e Psicóloga para falar sobre a história das mulheres que trilharam o caminho do Direito.
Ezilda iniciou sua exposição relembrando que o reconhecimento da igualdade material entre homens e mulheres é recente em nosso ordenamento jurídico. “Formalmente, faz apenas 34 anos que a Constituição Federal coloca as mulheres em pé de igualdade com os homens. Se nós hoje atuamos em um contexto melhor que há 20 anos, percebemos também que ainda hoje somos precursoras”. A Advogada aponta que a causa para esse reconhecimento tardio da igualdade de gênero se deu em razão de o Direito e o sistema Judiciário – como um todo – terem sido construídos com base no patriarcado. E, para ela, “pensar sobre as precursoras é pensar sobre as dificuldades. O quanto nós carregamos peso e o quanto isso é representativo de uma cultura patriarcal e misógina”.
Na sequência, Rafaela compartilhou sua experiência à frente de um grande escritório de advocacia, observando que “hoje, as mulheres são maioria no Direito, mas ainda temos poucas mulheres exercendo cargos de gestão dentro dos escritórios”. A advogada reconhece que grandes conquistas foram feitas, se considerarmos que “até pouco tempo as mulheres não podiam trabalhar sem autorização dos maridos”, referindo-se ao Estatuto da Mulher Casada, da década de 1970. Apesar dos avanços, Parra considera que ainda há muito a ser feito. “Não é uma mudança rápida e fácil, mas toda evolução acontece se continuarmos persistindo nesse tema”, afirmou.
A última painelista – Nathalia Blagevitch – dividiu sua história de vida contando os desafios enfrentados, tanto na esfera pessoal como profissional, por ser uma mulher com deficiência. “Na hora de prestar a OAB, eu tive problemas, pois a prova da 2ª fase deve ser escrita à mão”, relatou a Advogada, que, em razão de uma paralisia cerebral, não pode movimentar o lado direito do corpo. Ao longo de sua trajetória, Nathalia relatou ter enfrentado discriminação de colegas de faculdade, de trabalho e até mesmo no sistema Judiciário, relembrando de momentos em que teve dificuldade para ingressar em um fórum em São Paulo, pois o edifício não estava preparado para receber pessoas em cadeiras de rodas. “Pude perceber que ser mulher com deficiência me colocava em um lugar diferente. Nem bom, nem ruim, mas em um lugar de luta”, ressaltou a Advogada.