STJ exibe documentário Tesouro Natterer, pré-qualificado para a disputa do Oscar 2025

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O Salão de Recepções do Superior Tribunal de Justiça (STJ) se transformou, na noite desta quarta-feira (11), em sala de cinema: no local, foi exibido em avant-première o documentário brasileiro Tesouro Natterer, pré-selecionado para concorrer ao Oscar 2025 na categoria Longa-Metragem Documentário. Dirigida pelo cineasta Renato Barbieri, a obra apresenta a história do naturalista austríaco Johann Natterer, responsável pela formação do maior acervo etnográfico sobre povos indígenas brasileiros.

Ao longo de mais de 40 anos de carreira, Renato Barbieri tem uma extensa conexão com o cinema social de impacto. O paulista radicado em Brasília há quase três décadas já realizou diversos filmes e séries. Mais recentemente, dirigiu duas produções bem-sucedidas em salas de cinema nacionais e plataformas de streaming: os filmes Pureza (2022) e Servidão (2024). 

O evento contou com pronunciamentos do presidente do STJ, ministro Herman Benjamin; do embaixador da Áustria no Brasil, Stefan Scholz; da presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana; e do presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Leandro Grass.

Membro da expedição austríaca que acompanhou a então arquiduquesa Maria Leopoldina – que se tornaria imperatriz após se casar com D. Pedro I –, Johann Natterer permaneceu no Brasil durante 18 anos, período que resultou em uma coleção de mais de 50 mil objetos. A maioria dos artefatos está atualmente guardada em dois museus de Viena.

Renato Barbieri contou que, quando foi à Áustria conhecer esse acervo natural e etnográfico, percebeu que estava diante de um verdadeiro tesouro – daí o título do documentário.

"Natterer não poderia imaginar que essa coleção, 200 anos depois, seria tão importante para os povos indígenas brasileiros", apontou o cineasta, que também destacou a hipótese de um processo de cooperação entre Brasil e Áustria trazer as peças de volta para o território brasileiro.

Artefatos representam as diversas identidades indígenas brasileiras

O embaixador Stefan Scholz comentou que os artefatos brasileiros levados à Áustria contribuíram para um gradativo interesse da Europa oitocentista pelo Brasil. O diplomata também elogiou o papel dos pesquisadores austríacos na pesquisa e na preservação desses objetos históricos.

De acordo com a chefe da Funai, Joenia Wapichana, o documentário é importante por retratar os artefatos indígenas brasileiros, mas também aponta para a necessidade de se discutir a repatriação desses itens.

Wapichana lembrou que os artefatos representam as identidades indígenas brasileiras – as quais podem parecer semelhantes para o olhar comum, mas guardam as peculiaridades e distinções fundamentais de cada grupo – e permitem examinar como aqueles povos se expressavam em determinado momento da sua história.

Para o diretor do Iphan, Leandro Grass, a marginalização e a violação dos povos indígenas são elementos centrais da realidade brasileira, motivo pelo qual a autarquia tem buscado investir em políticas de recuperação e proteção do patrimônio cultural.

Documentário busca fomentar debate sobre repatriação de acervos históricos

Antes da exibição do documentário, Renato Barbieri respondeu às perguntas da imprensa na sala de reuniões corporativas do tribunal. O diretor afirmou que buscou apresentar Johann Natterer de uma forma que despertasse o interesse de públicos diversificados, para além do perfil acadêmico. Ele também ressaltou que seu objetivo é valorizar a história e a cultura dos povos originários brasileiros abordando debates atuais, como a questão da repatriação de artefatos de valor inestimável.

"Queremos provocar o debate sobre o retorno desse acervo, seja por meio de grandes exposições itinerantes ou pela repatriação de peças. Esse é um dos temas abordados no documentário, haja vista o barulho que foi feito recentemente com a repatriação de um manto tupinambá, que estava em um museu na Dinamarca", comentou Renato Barbieri.

Ministros destacaram emoções e reflexões após a exibição

No final da exibição, ministros presentes comentaram a obra. Para o ministro Og Fernandes, a arte estimula o pensamento e a reflexão. "Fiquei triste, alegre, mas sobretudo cada vez mais brasileiro", afirmou.

Benedito Gonçalves focou sua análise no retrato do Rio de Janeiro do século XIX, ainda marcado pela escravidão. "O que mais me sensibilizou, talvez pela minha origem, foi a impiedade da escravidão".

Por sua vez, a ministra Isabel Gallotti disse que o documentário ressaltou a riqueza do tesouro e destacou de forma brilhante a conexão entre Brasil e Áustria. "Bom saber que se eu for à Áustria vou ter um pedaço importante do Brasil lá", declarou.

O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Walton Alencar disse que o Tesouro Natterer invoca emoções em quem assiste e retrata o interior do Brasil de forma singular. "O documentário é uma joia que apresenta cenas de beleza estrondosa", finalizou.

Documentário foi premiado em importantes festivais de cinema

Tesouro Natterer foi pré-indicado ao Oscar por ter vencido, em abril, o Grande Prêmio do Júri do festival É Tudo Verdade 2024, na categoria Competição Brasileira – Longas e Médias-Metragens. Mais recentemente, no dia 7 de dezembro, o filme se destacou novamente ao vencer o 26º Troféu Câmara Legislativa da Mostra Brasília nas categorias de Melhor Longa-Metragem pelo Júri Oficial, Roteiro e Trilha Sonora.

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